Cada fase da vida tem suas vantagens e desvantagens iniciais para os negócios. O ideal é aperfeiçoar os pontos que precisam ser desenvolvidos em sua faixa etária
Nunca é cedo ou tarde demais para abrir um negócio. Não é à toa que existem histórias de empreendedorismo bem-sucedido em todas as idades. O que não dá para negar é que é bem diferente começar aos 18 ou aos 60. Equilibrando desafios e vantagens, a prática mostra que a idade certa é sempre agora, ou seja, não existe idade para empreender.
“Empreender no Brasil, hoje, é um estilo de vida para todas as faixas etárias”, explica Enio Pinto, gerente de Relacionamento com o Cliente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Na avaliação do especialista, ao abrir um negócio muito cedo ou na terceira idade, o empreendedor precisará dedicar uma atenção maior a certas habilidades pessoais que costumam ser menos desenvolvidas em determinados períodos da vida.
CAPACIDADE DE APRENDER
“O importante é saber que se pode adquirir perfil empresarial. No passado, acreditava-se que alguém nascia ou não para ser empreendedor. Hoje está provado que é possível desenvolver competências comportamentais e atitudinais”, diz Enio Pinto, do Sebrae.
Para o professor Leandro Augusto Lacerda Felício, diretor administrativo-financeiro e gestor de projetos do Instituto de Pesquisas e Projetos Empreendedores — organização que oferece cursos para fomentar o empreendedorismo na terceira idade —, mais importante do que a faixa etária é a capacidade de aprender.
“Desde que a pessoa tenha acesso a informação, é possível capacitá-la para empreender em qualquer idade. Temos casos de pessoas empreendendo desde a idade colegial até alunos de mais de 90 anos”, conta.
Perfil Brasileiro
30,4% da população adulta está à frente do seu próprio negócio
*Taxa formada por pessoas que, no ano anterior, realizaram alguma ação visando ter um negócio próprio ou empreendedores com negócio próprio com até 3,5 anos de operação
Idade dos DONOS de negócios com até 3,5 anos de existência
"Após a aposentadoria, comecei a ajudar minha tia a fazer bombons para uma confeitaria de Curitiba. Gostei e resolvi fazer doces para aumentar a renda familiar. Comecei oferecendo a amigos e, na pandemia, resolvi usar redes sociais para vender para um número maior de pessoas com a ajuda de minha filha.
O maior desafio é reciclar-se – inteirar-se de novas técnicas de negócios, aprender a usar as redes sociais, pesquisar produtos e mercados, calcular custos e investir em aprendizado. Por outro lado, as pessoas têm uma visão mais ampla na terceira idade. A experiência faz com que saibam os caminhos a percorrer e corram riscos menores. Também há a vantagem de definir quando e como vai trabalhar. Elas podem ser tão criativas e terem tanta capacidade de trabalho quanto as jovens. E podem aprender qualquer coisa."
"Aos 15, comecei a fazer trufas de chocolate em casa para vender na escola. A ideia era comprar um celular, depois um notebook e, por fim, fazer um intercâmbio. Quando estava quase conseguindo completar o que precisava, a pandemia começou e as vendas aumentaram muito. Comecei a contratar pessoas e, hoje, temos 18 colaboradores e uma nova loja.
O desafio inicial foi convencer as pessoas a comprarem o produto pela sua qualidade, e não por 'pena' ao me verem vendendo na rua. Fora isso, não senti dificuldades relacionadas à idade. Quando você empreende novo, não tem medo de arriscar. Sabe que, se acontecer algo de ruim, terá força para iniciar outro negócio. Isso ajuda muito na criatividade."
Solange Borges - 59 ANOS
Proprietária do culinária de terreiro Camaçari (BA)
"Inspirada no resgate da minha origem e na minha religião, o candomblé, criei o Culinária de Terreiro – voltado para proporcionar experiências com vários itens da comida baiana. Caruru, vatapá e acarajé estão sempre no nosso cardápio de cursos e vivências, atraindo gente do Brasil e do mundo.
Ensino a fazer, inclusive, o azeite de dendê no pilão e no fogão a lenha, além de derivados da mandioca, na Casa de Farinha, de onde saem o beiju, a tapioca, a goma e outros produtos. O projeto, que começou alguns anos antes de eu me aposentar, com um evento criado em 2017 nas redes sociais, consolidou-se mesmo nos últimos três anos. Hoje temos uma estrutura física que só cresce para receber as pessoas. Criamos até o Festival do Dendê, realizado uma vez por ano, para ampliar ainda mais essa experiência. Também tenho me aperfeiçoado profissionalmente com cursos e formação empresarial."