A PIZZARIA QUE NASCEU COM A CAPITAL FEDERAL

Logo que se passa em frente a uma das lojas já dá sentir o mesmo aroma gostoso que muitos dos primeiros moradores e trabalhadores de Brasília sentiam nos anos 1960 – são as massas redondas da Pizzaria Dom Bosco saindo do forno.

O pedido que mais se ouve é “uma dupla com mate”, que significa uma fatia por cima da outra com um copo da bebida acompanhando.

A presença em seis pontos da capital federal ajudam a espalhar a história dessa que foi a primeira pizzaria de Brasília – lugar informal, onde as pessoas ainda comem pedaços de pizza no balcão.

Fundada em 1960, a pizzaria leva o nome de quase todo negócio aberto na cidade naquela época – Dom Bosco, o sacerdote que teria previsto o surgimento da capital – e é resultado do sonho do mineiro Enildo Veríssimo, 76 anos, que veio para o Distrito Federal em busca do que o lugar prometia: vida nova, trabalho e dinheiro.

Enildo já foi sondado sobre transformar o negócio em franquia, mas parece que, desde a decisão de vender um só sabor de pizza, ele é adepto da velha fórmula que defende deixar quieto time que está ganhando

Segredo do negócio: simplicidade e necessidade da época

A Dom Bosco nasceu de uma necessidade notada pelo olhar empreendedor de Enildo. Num ponto por onde costumavam passar muitos funcionários de Brasília, e com o transporte escasso da época, ele montou um lugar para o cliente comer rápido e seguir em frente.

Veio a ideia de montar uma pizza simples, com molho de tomate feito na casa, orégano e queijo muçarela. Como a combinação fica gostosa até quando esfria, os clientes comiam no balcão mesmo ou já saíam com ela na mão para não perder o ônibus.

A ideia de colocar uma fatia de pizza sobre a outra, como se fosse um sanduíche, surgiu naturalmente, para facilitar a correria. Assim, nasceu a tal “dupla” – favorita de tantos clientes. O mate veio a pedido dos cariocas, mas também tem suco de caju e de laranja, afinal, vinha gente de todo canto do país para Brasília.

Adaptações ao espírito do tempo

Entre 1996 e 2001, a Pizzaria Dom Bosco ganhou mais seis unidades, hoje gerenciadas pelos filhos e pelos sobrinhos de Enildo, que se adaptaram às necessidades do tempo.

Se o pioneirismo se mantém na simplicidade do atendimento em balcão, tem uma unidade em posto de gasolina, onde é possível sentar-se às mesas e comer aguardando os serviços do carro; ou a do aeroporto, que divide o ambiente em pé de igualdade com marcas e franquias famosas.

Já em 2020 foram 10 meses de lojas fechadas devido aos cuidados para deter a pandemia de Covid-19. O desafio de lidar com prejuízos acelerou o investimento em delivery e exigiu ajuste nos preços da pizza e da taxa de entrega para não encarecer o valor final.

Em tempo de influência nas redes sociais, a Pizzaria Dom Bosco se espalha pela internet sem grandes esforços: por ser querida na cidade, não faltam clientes e turistas postando e marcando o local. “É o nosso cliente que acaba nos divulgando na internet”, comemora Enildo. “É o boca a boca de hoje”.

Anônimos e famosos

Gente conhecida no cenário político brasileiro é vista com frequência chamando pela “dupla com mate” no balcão da Dom Bosco. Artistas famosos também já passaram ou frequentaram o lugar: Renato Russo (que era de Brasília), Cássia Eller (de quem seu Enildo tem ótima lembrança), Cazuza e muitos outros.

RAIO X DA PIZZARIA DOM BOSCO

- 1960 - nasce para atender a quem quer comer rápido

- 20% a 30% da venda é por delivery

- R$ 4,20 é valor da fatia

- R$ 42 é o valor da pizza inteira

- Atualmente, 6 unidades. Todas com forno próprio

- Massa, molho e mate feitos na casa