A GRANDE IDEIA!
A mudança veio por acaso, durante uma conversa por WhatsApp em que uma amiga me perguntou sobre meus colegas de apartamento. Eles estavam na sala, comendo um dos meus pães – “estão comendo o pão que o viado amassou”, soltei. Na mesma hora, me dei conta de que eu tinha um nome que daria sentido à ideia de ter uma padaria – não só para vender pães, mas para servir como uma ferramenta de visibilidade para questões LGBTQIA+.
As pessoas se identificaram com a ideia. O carinho foi tão grande que vendi 15 pães logo na primeira semana. Nas seguintes, passei a fazer, por jornada, 20, 40, 60 pães – até que já não dava mais conta de produzi-los no forninho de quatro bocas que tenho em casa e recorri ao fogão de seis bocas dos meus pais.
Minha produção, que começou apenas aos sábados, já ocupava 100% do meu tempo poucas semanas depois. Comecei a contar com minha irmã e meu cunhado para me ajudarem com compras e pedidos. Entre outras coisas, são eles que vão ao Assaí para comprar farinha para mim – assim, posso me dedicar totalmente à produção.
VISIBILIDADE E PROTAGONISMO LGBTQIA+
Hoje, para atender à demanda, uso as instalações profissionais de uma escola de panificação e conto com pessoas para me ajudar na produção – assim como nas áreas de comunicação, jurídica e logística. A maioria delas são LGBTQIA+.
Isso é fundamental, já que somos prejudicados no mercado de trabalho. Não à toa, tantos empreendem por necessidade. A padaria, que fala em visibilidade e protagonismo, tem também obrigação de ter o maior número possível de pessoas LGBTQIA+ em todos os processos.
Não se trata de usar uma bandeira para dar visibilidade para o negócio. É a causa de LGBTQIA+ que ganhou uma marca para explicitar a necessidade de se falar sobre ela. Por meio da nossa linguagem, da cultura queer, do nosso linguajar e da nossa forma de ver o mundo, defendemos nossa existência como legítima e plena – o que ainda é estranhamente necessário em 2020.
A intenção não é vender pão para um nicho. O que quero é que aquelas pessoas que ainda reproduzem preconceitos, mesmo sem se darem conta, comam um pão delicioso, entendam por que a LGBTfobia é ruim e revejam velhas condutas.
Tenho o cuidado de fazer parcerias apenas com empresas alinhadas com esses princípios de visibilidade LGBTQIA+, hoje fornecemos pães para três estabelecimentos comerciais de Curitiba.
O JOGO VIROU – LIÇÃO DE EMPREENDEDORISMO
Tem sido um desafio estar na posição de empreendedor de forma tão repentina e sem qualquer experiência no mundo dos negócios. Sempre fui um prestador de serviço, em uma lógica muito direta de trabalho.
Dava minhas aulas, recebia meu dinheiro e ia para casa. De repente, o jogo virou. As lições sobre as dificuldades da atividade empresarial são diárias.
Aprendi coisas corriqueiras e outras nem tanto. Descobri, por exemplo, que nem sempre sai mais barato comprar a farinha com o menor preço. Percebi, ao longo do tempo, que o pão é tão sensível que a receita pode mudar de acordo com as condições climáticas.
Mas entendi, principalmente, que não há apenas certo e errado nesse mundo empresarial, mas formas de se fazer as coisas. E nós só as descobrimos investindo tempo, humildade e presentificação.
E também reconhecendo que estamos vulneráveis às complexidades do produto, do mercado e das pessoas ao nosso redor. Tentar prever uma solução única é pedir para se equivocar de novo.
Isso também vale para o futuro. Não arrisco previsões, mas o plano é levar esse diálogo de visibilidade, gerado pelo pão a cada vez mais lugares, pelo tempo que for possível.
Foto: Alexandre Mazzo
“O que quero é que aquelas pessoas que ainda reproduzem preconceitos, mesmo sem se darem conta, comam um pão delicioso e revejam velhas condutas”
Gabriel Castro, ator e padeiro
Segmento: Panificação
Inauguração: Maio de 2020
Instagram: @opaoqueoviadoamassou
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