CAPITAL DE GIRO É FUNDAMENTAL, MOSTRA ESPECIALISTA

Sabe aquele dinheiro que todo dono de negócio precisa ter em mãos para pagar as contas do mês quando elas vencem? Esse recurso é chamado de “capital de giro” e é fundamental para a sobrevivência de qualquer negócio, especialmente em períodos de vendas baixas.

É importante ter esse dinheiro “em caixa”, mas nem sempre o empreendedor sabe do que se trata ou entende como ele funciona. Nesta entrevista, a analista Adriana Pereira, do Sebrae/Bahia, que é especialista em pequenos negócios, dá dicas e explica o melhor caminho para se evitar surpresas indesejadas.

O que é capital de giro?

Adriana Pereira

Em linguagem financeira prática, é o valor que a empresa precisa ter em caixa para pagar todas as despesas do mês, como conta de telefone, compra de mercadorias, reposição de matéria-prima e salário de funcionários.

Em que situações o capital de giro é um problema para o pequeno empreendedor?

Adriana Pereira

O principal problema é a falta de controle, de anotações. É importante ter disciplina para anotar tudo que entra e sai de dinheiro nas respectivas datas. Isso pode ser feito em um caderno, no celular ou em planilha no computador. Assim, é possível verificar em que períodos do mês há mais gastos e em quais entram mais dinheiro. Com isso, pode-se até mudar o vencimento de algumas contas, como de telefone ou energia, para outros períodos mais confortáveis de pagar. Isso evita que todas as contas vençam num dia só, como o quinto dia do mês, o que nem sempre é a melhor estratégia

O primeiro passo, então, é cuidar do fluxo de caixa, certo?

Adriana Pereira

Sim, essas anotações nada mais são do que o controle desse fluxo, e não há motivo para se assustar. É uma conta de mais e de menos: o que entra menos o que sai.

Quanto é indicado reservar todo mês para ter capital de giro suficiente?

Adriana Pereira

O mais importante é o empreendedor saber exatamente quais as despesas fixas que são pagas no mês e quanto gasta nas compras que faz. Com essa informação confiável, o ideal é ter uma reserva para três meses de despesas. Quem está começando precisa levar em conta o quanto gastou com estoque e somar todas as despesas previstas no período.

Quais são as armadilhas mais comuns para os pequenos negócios?

Adriana Pereira

Comprar demais e ficar com a mercadoria parada, seja por má gestão de venda ou preço ruim. Outra questão é o desencontro entre os prazos de pagamento e de recebimento. Se ele dá prazo de 60 dias para o cliente, mas paga as compras à vista ou em 30 dias, vai ter que ter dinheiro antes de receber o que vendeu. E se vende no cartão e faz antecipação do valor, precisa cuidar muito para não ver o lucro ir embora, consumido na taxa cobrada pelo cartão.

Há um caminho seguro para manter um bom capital de giro?

Adriana Pereira

É preciso ter produtos vendáveis, de boa saída, ter reposição rápida e saber quais produtos têm melhor margem de venda. Por isso, é importante não ficar no achismo. Anote tudo, mesmo que tenha noção de quanto vai entrar. Esse controle vale tanto para o comércio ambulante como para negócios maiores. Se precisar de suporte, o Sebrae ou outras instituições podem ajudar a entender os dados e fazer ajustes.

Vale a pena pedir dinheiro emprestado para capital de giro?

Adriana Pereira

O ideal é que só busque um empréstimo em caso de emergência e com longo prazo para pagar. Nos bancos, pesquise opções de linhas de capital de giro pura. Evite entrar no limite do cheque especial ou deixar de pagar a fatura do cartão de crédito. Assim a dívida só aumenta.

Como calcular?

• Anote todas as despesas e custos do mês, com suas datas. Exemplo: aluguel, água, luz, telefone, salários (se houver), impostos, fornecedores, matéria-prima etc.
• Faça a conta: Some todas as despesas fixas do mês e o custo do estoque inicial. Multiplique por 3; essa é a reserva ideal para quem está começando um negócio.
• Lembre-se: Quanto mais vendas fizer e mais rápido receber os pagamentos, menos vai precisar recorrer a empréstimos.