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O poder da inclusão

Saiba como incentivar a inclusão junto a pessoas com deficiência auditiva, que passam por uma série de desafios quanto à educação, ao lazer e ao trabalho

 

Para as pessoas que nascem ouvintes, isto é, que não possuem deficiências em seu sistema auditivo, é difícil imaginar todos os desafios enfrentados por aqueles que têm alguma limitação auditiva.

A comunidade surda no mundo inteiro tem lutado, ao longo da história, para ter sua identidade, sua língua e sua cultura reconhecidas. Mesmo nos tempos atuais, em que vemos muitas iniciativas inclusivas, as pessoas surdas ou com deficiência auditiva ainda precisam superar dificuldades todos os dias, principalmente no que diz respeito ao acesso à informação e à inserção no mercado de trabalho. 

Uma pesquisa do Instituto Locomotiva (2019) indica que há mais de 10 milhões de pessoas com esse tipo de deficiência no Brasil. A maior parte dos surdos (ou seja, indivíduos com perda total da audição) não compreende o português e depende exclusivamente da Língua Brasileira de Sinais (Libras) para se comunicar. 

Isso pode gerar obstáculos em atividades cotidianas, como no acesso à educação e ao lazer, e especialmente em sua inclusão no mercado de trabalho, em que apenas 37% das pessoas com essa limitação estão inseridas. “As pessoas com deficiência auditiva parcial, oralizadas, têm mais chances de contratação do que os surdos que se comunicam em Libras”, explica a especialista em inclusão Talita Cristina Oliveira, sócia da Innovare Inclusiva, que atua na seleção de profissionais com deficiência. “Os desafios se dão por conta da barreira comunicacional, do medo de arriscar e de errar durante a conversação em um novo idioma”, completa.

 

COMO PROMOVER A INCLUSÃO? 

Em geral, grandes empresas possuem programas de contratação de pessoas com deficiências, com orientações a serem seguidas no convívio entre a equipe. No entanto, pequenos negócios podem ter dificuldades na inclusão de pessoas surdas. 

Para que um colaborador com deficiência auditiva possa ser bem recebido em um negócio de pequeno porte, gerando uma sensação de pertencimento, é preciso atender às necessidades individuais dessa pessoa. Nesse sentido, é importante que todos os colaboradores façam um curso de Libras – na Internet há opções gratuitas. 

“O proprietário também pode conscientizar a equipe sobre as particularidades do novo colega, trazer dicas (como não ficar de cabeça baixa ou com algum objeto na frente dos lábios), incentivar a aprender o novo idioma e tranquilizar a todos, esclarecendo que também é aceito fazer desenhos, mímica ou escrever. O importante é não deixar de conviver e de se comunicar com a pessoa”, orienta Talita.

 

 

“O mais comum é que os pequenos negócios busquem somente pessoas sem deficiências ao pensar numa contratação. Infelizmente, no Brasil, muitas empresas acabam contratando pessoas com deficiência apenas quando são obrigadas por lei ".

Talita Cristina Oliveira, especialista em inclusão.

 

RESPEITO ÀS DIFERENÇAS 

Além de cumprir uma importante função social, pequenos negócios que se dedicam à inclusão e à diversidade podem se beneficiar de diferentes formas. Talita aponta três benefícios diretos para empreendimentos inclusivos: a soma de diferentes perfis, que pode levar tornar o negócio mais eficiente e criativo; a valorização da marca pelos clientes; e o amadurecimento do empreendedor e da sua equipe. 

“Quanto mais pessoas com perfis diferentes fizerem parte de um negócio, melhor, porque haverá mais ideias que podem aperfeiçoar diversas coisas dentro do empreendimento. Pessoas com o mesmo perfil vão trazer, na maior parte do tempo, ideias semelhantes”, ressalta. “Outro ponto é a questão da responsabilidade social. Ter na equipe uma pessoa que possua algum tipo de deficiência gera uma percepção muito positiva por parte dos clientes, reforçando a conexão com a marca. Há, ainda, o aspecto do desenvolvimento do empreendedor e da equipe. Quando a equipe é diversa, as pessoas acabam melhorando diferentes habilidades, principalmente comunicacionais”, explica a especialista em inclusão. 

Talita também destaca a importância de não criar barreiras ao pensar na contratação de um novo colaborador: “O mais comum é que os pequenos negócios busquem somente pessoas sem deficiências ao pensar numa contratação. Infelizmente, no Brasil, muitas empresas acabam contratando pessoas com deficiência apenas quando são obrigadas por lei. No entanto, o pequeno empreendedor pode se posicionar de forma diferente e não criar barreiras para a admissão de alguém com uma limitação como a auditiva, por exemplo. Ele pode contratar pela competência do profissional e não pelo fato de ter ou não uma deficiência”. 

A especialista ainda reforça a importância de o empreendedor ter um conhecimento mínimo sobre Libras para facilitar o processo.

 

TECNOLOGIA PARA INCLUSÃO 

A tecnologia cumpre um importante papel quando o assunto é inclusão. Para quebrar barreiras de comunicação entre ouvintes e surdos, há ferramentas que facilitam a conversação em diversas situações. 

Uma delas é o aplicativo gratuito HandTalk, que funciona como um dicionário de bolso para consulta de sinais e pequenas frases em Libras. “Uma vez que a Libras é uma linguagem visual, não é tão fácil construir registros da língua, e o aplicativo acaba sendo esse espaço em que se pode encontrar e entender os sinais, facilitando o diálogo com pessoas surdas”, afirma João Vitor Bogas, porta-voz da HandTalk. 

O aplicativo, que já soma 3,5 milhões de downloads, conta com o personagem Hugo, uma animação, para demonstrar os sinais. “O Hugo surgiu com a proposta de quebrar essa barreira de comunicação entre surdos e ouvintes. Ele foi desenhado de modo a simplificar esse processo: com mãos bem grandes, que ajudam a visualizar a tradução e os sinais, além de um rosto expressivo, justamente para que fique clara a mensagem que está passando ao se comunicar com os usuários”, explica João Bogas. 

Além da função de tradução de frases para Libras, o aplicativo possui a ferramenta “Hugo Ensina”, que consiste em uma série de vídeos curtos que ensinam sinais em situações variadas do dia a dia. 

Para pequenos negócios, o HandTalk pode contribuir tanto para o aprendizado da língua de sinais por parte da equipe quanto para facilitar a comunicação no dia a dia com um novo colaborador que possua deficiência auditiva, já que no aplicativo é possível consultar como se gesticula praticamente qualquer frase em Libras.


“Dicionário de bolso” para conversação em Libras, aplicativo Handtalk pode ser baixado gratuitamente para Android e IOS.
 

 

26 de setembro é o Dia Nacional do Surdo. A data tem como objetivo aumentar a conscientização dos ouvintes sobre a inclusão social desse grupo no Brasil.

 

DICAS PARA O CONVÍVIO COM PESSOAS COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA 

  • Acene ou toque levemente em seu braço para iniciar uma conversa; 

  • Fale de frente para a pessoa, não de lado ou atrás dela; 

  • Procure sempre falar de maneira natural, clara e objetiva; 

  • Seja expressivo. As pessoas surdas não podem identificar as mudanças de tom que indicam afirmação, negação, pergunta, alegria, tristeza, etc. 

  • Evite o uso de objetos obstrutivos em frente aos lábios; 

  • Mantenha contato visual; 

  • Não cruze entre duas ou mais pessoas com deficiência auditiva, enquanto elas estiverem conversando; 

  • Ofereça formatos alternativos para as informações sonoras, como texto escrito, desenhos, ou língua de sinais; 

  • Mantenha o foco nas potencialidades e não nas limitações das pessoas com deficiência.

 

COMO SE REFERIR

  • Pessoa com deficiência auditiva: é o termo considerado mais adequado para qualquer pessoa com perda auditiva branda, moderada ou severa, porque destaca o sujeito antes da condição. 

  • Surdo: pessoa com perda total da audição, que não escuta nada, nem mesmo com a ajuda de aparelho auditivo. 

  • Surdo oralizado: pessoa com perda auditiva, mas que articula a fala para se comunicar. Geralmente, é capaz de realizar leitura labial. 

  • Surdo sinalizante: pessoa com perda auditiva, que usa a Libras como forma de comunicação. 

 

NUNCA USAR 

Surdo-mudo: Muitas pessoas surdas não falam porque não aprenderam, e não por possuírem algum distúrbio específico relacionado à fala. Há uma minoria de surdos que também são mudos. Por isso esse é um termo incorreto, que nunca deve ser utilizado.

 

CURSO GRATUITO DE LIBRAS

Que tal contribuir com a inclusão da comunidade surda aprendendo o idioma de sinais? Para fazer o curso gratuito de Libras, acesse bit.ly/Libras_EVG

 

 

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