IL SORDO: SABOR DE INCLUSÃO
Para driblar a dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, Breno criou uma gelateria que gera empregos para pessoas surdas como ele e atende a quase 10 mil clientes por mês
No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 5% da população brasileira possui algum tipo de deficiência auditiva, o que corresponde a mais de 10 milhões de pessoas.
E, embora o Estatuto da Pessoa com Deficiência, conhecido como Lei Brasileira de Inclusão (LBI), estabeleça que “toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação”, o acesso dessas pessoas ao mercado de trabalho representa uma série de desafios.
GERANDO OPORTUNIDADES
Foi exatamente diante da dificuldade de encontrar uma nova colocação, após perder o emprego como instrutor de Libras (Língua Brasileira de Sinais), que Breno Oliveira decidiu empreender.
Surdo desde que nasceu, quis criar sua própria oportunidade de trabalho e, depois de estudar muito, abriu a primeira unidade da gelateria Il Sordo (O Surdo, em italiano) na cidade de Aracaju (SE).
“A empresa começou bem pequena. O Breno fazia o gelato e, aos poucos, desenvolveu uma maneira de atender os clientes através de indicações visuais no cardápio e na vitrine. Os surdos são acostumados a olhar para as pessoas, pois precisam do contato visual, e isso faz o atendimento ser mais humano”, revela o pai do empreendedor, José de Oliveira Junior, economista e consultor da Il Sordo.
A gelateria cresceu e agora gera empregos nas lojas de Aracaju, Salvador (BA) e São Paulo (SP). Em todas as unidades, as equipes são formadas majoritariamente por pessoas surdas e o atendimento é feito a partir de uma linguagem visual que usa estratégias para facilitar a comunicação – os clientes que não conhecem Libras podem apontar no cardápio ou escrever o pedido, por exemplo.
A Il Sordo produz gelatos, sorvetes, cafés, brownies, doces tipo stecco e macarons e é totalmente voltada para a acessibilidade e a inclusão. O espaço físico inclui rampas e cardápios adaptados, e os sabores incluem opções pensadas para atender a intolerantes à lactose ou ao glúten, diabéticos e pessoas veganas.
INCLUSÃO REVERSA
Inclusão reversa é a ideia de adaptar práticas, espaços e ferramentas originalmente pensados para pessoas com deficiência de forma que sejam úteis e acessíveis a todos.
“Isso acontece quando o cliente entra na Il Sordo e vivencia a experiência de ser atendido por um surdo. Hoje, atendemos a quase dez mil pessoas todo mês sem problemas. As pessoas são bem atendidas, não registramos dificuldades de comunicação”, conta José.
Gelato X Sorvete
Gelato significa sorvete em português. Mas, apesar disso, o produto conhecido como gelato no Brasil tem características específicas que o distinguem de outros tipos de sorvete, tornando os termos diferentes.
Gelato:
Segue métodos artesanais, priorizando ingredientes frescos e naturais. Leva pouca gordura no preparo e tem sabores mais intensos.
Sorvete:
Costuma ser produzido de forma industrializada. É batido em alta velocidade, incorporando mais ar, por isso é mais cremoso e volumoso.
LIBRAS
A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é o principal meio de comunicação usado pela comunidade surda no Brasil e tem suas origens no século XIX, com a fundação do Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES), em 1857, pelo professor francês Ernest Huet.
Reconhecida oficialmente como língua em 2002, Libras é uma comunicação visual-espacial que tem construções próprias e bem diferentes do português falado ou escrito.
A língua utiliza sinais das mãos, expressões faciais e outros movimentos corporais para construir sentenças, desempenhando um papel fundamental na inclusão das pessoas surdas.